O Rabo de Fora dos Gatos Criminosos
Por Glenda Almeida - Edição Anônimos - junho de 2013

Era dia 28 de março de 2004. O crime ocorreu por volta das 21 horas e 30 minutos, em Perdizes, São Paulo. Um casal foi morto com 11 tiros na própria residência, e o principal suspeito era o filho-enteado, que fora visto pelo vigia da Rua Atibaia saindo da casa do pai, na noite do assassinato.

Este é o caso de Gil Rugai, julgado e condenado em fevereiro deste ano a 33 anos e 9 meses de prisão. Foi um dos gatos escondidos com o rabo de fora, desmascarado porque deixara a marca de uma pegada numa porta que arrombou na cena do crime.

Quem descobriu essa pegada foram os peritos, que a compararam com a pisada do suspeito, encontrando compatibilidade indiscutível. E é no universo da perícia que mergulharemos através desta matéria, a fim de revelar o que está por trás das investigações que dão identidade a anônimos criminosos, muitas vezes escondidos por trás de uma assinatura falsificada.

Primeiro, com a palavra, o grande espião do Brasil, especialista em descobrir fatos e informações. Seu nome? Não posso revelar, pois a reportagem é recheada de anônimos. Mas a dica é: começa com “E” e termina com “loy”. O sobrenome é “de Lacerda” e ele tem uma Ferrari vermelha.

“Olha, vou marcar um encontro seu com um casal que resolve uns pepinos comigo. Sábado, às 11 horas, tá bom para você? Conversaremos nós quatro”.

AS PRIMEIRAS HISTÓRIAS

Cheguei ao seu escritório no dia e horário marcado. No caminho, já de cara, na esquina que tinha um bar, havia um corpo no chão, com policiais ao redor. Obviamente, deu aquela vontadinha de saber o que tinha acontecido, potencializada pelo desejo de furo de todo jornalista. Mas tinha uma entrevista, e segui a diante, prometendo que checaria tudo na volta. O corpo estava sendo embrulhado naquele “papel alumínio”, e essa história foi ótima para eu puxar assunto com os novos amigos.

“Aqui estão eles”, disse o E-loy. “Vou deixá-los à vontade, enquanto resolvo algumas coisas”.

“Oi, muito prazer. Vocês me ajudam a entender a perícia? Aliás, vindo para cá, vi um corpo no chão... já embrulhado no papel alumínio...”

“Chama-se cobre óbito”, disse Tereza.

“É? Eu chamo de sacopol”, sugeriu Mauro. “Saco de polícia”.

O casal mexe com perícia faz anos. Ela é fotógrafa técnico-pericial do Instituto de Criminalística, e não poderia dar essa entrevista. Sua mãe também era perita, e desde os 14 anos vive catando os detalhes de tudo por aí, até quando vai comprar um conjunto de copos de vidro para casa. “Bato o olho e já vejo. Esse copo tá com defeito”. O nome que darei a ela é Tereza.

Ele é perito criminal, e daqui a pouco se aposenta. Já desvendou muitos casos na vida. Seu nome falso será Mauro. Para ele, a entrevista era ainda mais proibida.

Ambos, atenciosamente, entenderam o drama de uma jornalista e contaram algumas histórias verídicas. Entre elas, a da máquina de escrever.

A MÁQUINA DE ESCREVER

“A máquina de escrever, assim como um carimbo ou a sola de um tênis, cria uma marca que é só dela, conforme você usa”, introduziu Tereza.

Esse era um caso de falsificação de documento. Um recibo de compra de mercadoria supostamente alterado que gerou prejuízos para as empresas envolvidas. O documento estava sendo questionado, e tinha sido preenchido, na época, com a máquina de escrever.

“A gente parou para pensar, e depois de muita confusão, a mente brilhante aqui viu um detalhe”, contou Mauro, com olhar apaixonado para Tereza, que respondeu: “olha, nós precisamos examinar a máquina que teria sido usada, para ver qual é a impressão característica de cada uma de suas letras. Assim, se os padrões não baterem, temos uma boa pista”.

Dito e feito.

“Senhor juiz, ou os colegas examinaram um documento falsificado e se enganaram, ou a peça que gerou o documento não foi a mesma examinada. Os padrões são diferentes”.

AUTOFALSIFICAÇÃO

Perícia é coisa fina, delicada, detalhista. Vai além do universo dos documentos, passando pela resolução de casos de acidente de trânsito, de assassinatos, e indo para a assinatura falsificada.

“Esse ponto é chave. É quando você finge ser outra pessoa, ou até quando você finge ser você mesmo. Esses casos então são os mais legais, e muitas vezes os mais difíceis”.

“Ahn? Tem gente assim no mundo, Mauro?!”

“Ué. Eu assino um cheque de um jeito parecido com o meu original, de forma que no futuro eu possa dizer que parece minha assinatura, mas digo que não fui eu. É a autofalsificação”.

Não acreditei.

“Vamos fazer o seguinte. Vou te passar o contato do meu pupilo”.

Na volta, descobri que o cadáver na esquina era o de um mendigo, que morrera de morte morrida, e não de morte matada. Segundo denúncias recentíssimas, provindas de depoimentos para a Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, de São Paulo, mendigos que morrem de morte morrida, ou matada, ainda são enterrados como indigentes, anônimos, mesmo que portem documento de identidade. O cemitério de Perus seria, segundo a denúncia, o lugar dos “João” e “Maria” de São Paulo. Estes são os nomes que os identificariam. Mas isso é uma curiosidade que apareceu ao longo da produção desta matéria.

Marquei, então, a entrevista com o tal pupilo.

ALEXANDRE, O PUPILO.

Passou uns dias, o sol se pôs, peguei um ônibus na Faria Lima, e às 19h30 estava na Ricardo Jaffet, uma grande Avenida de São Paulo. O escritório era em uma das travessas. Estava marcado para 20 horas. No trajeto, decorado com fachadas de motéis, fui até confundida com uma prostituta, e desesperada encontrei um taxi que me levou de graça até o endereço.

O pupilo me atendeu. Lá não era somente um escritório, e sim, a casa dos pais dele. À esquerda, depois de entrar pela primeira porta, descemos uma escada, e um ambiente místico, cheio de símbolos, nos recebeu. Havia muitas pastas com papéis, estátuas, uma estante de madeira, uma mesa bonita, cadeiras bonitas, e, é claro, umas lupas, microscópios, e outros instrumentos que não conseguia identificar de primeira, mas tive certeza que eram usados para as análises meticulosas de assinaturas.

Este entrevistado se chama Alexandre, e não estou fingindo desta vez. Neste dia, usava terno e tinha um cavanhaque. Mauro foi um de seus mentores, e contou que Alexandre vinha se destacando muito como perito judicial, que atua na área civil, um pouco diferente da área criminal. Em sua mesa, os livros para estudo estavam sempre ali do lado, prontos para serem consultados, sob a guarda de uma pequena estatueta de um bode de bronze, símbolo de fertilidade segundo as crenças da ordem da qual faz parte.

“Quer começar pelas histórias ou pela técnica?”

“Eu quero as histórias, Alexandre.”

“Mas eu vou começar te explicando o básico”.

O básico é a Gênese Gráfica. De acordo com Alexandre, a “GG” é composta pelos elementos da escrita que revelam quais são os movimentos psicomotores de uma pessoa, que são dela e somente dela. Segundo ele, o cérebro pensa, o sistema psicomotor leva a informação para os músculos, e o punho executa os comandos, resultando na escrita, “um conjunto de traçados, formação de letras e números”. Esse processo é pessoal e intransferível. Cada pessoa comanda e executa esse sistema de um jeito. E é por aí que se pega um falsário, mesmo que ele seja dos bons.

“A gente consegue identificar, numa assinatura, vários elementos que compõe a GG, e nos mostram seu autor. Por exemplo, o que chamamos de andamento, espaçamento, inclinação axial, entre outros. Mas os principais pontos da GG, os mais básicos, se refletem no início do lançamento do traço e no final do lançamento, que chamamos de arremate”.

Segundo Alexandre, o pulilo de Mauro e de outros grandes peritos que se propuseram a auxiliá-lo em seus momentos de dúvida, questionamento e busca de precisão, o falsificador deve ser muito bom para fazer uma cópia perfeita de uma assinatura. No entanto, alerta que não existem assinaturas sempre exatamente iguais. “Isso não é natural do ser humano. Então, se nos depararmos com algo assim, também devemos desconfiar”.

Quando está diante de um documento falso, ou mesmo diante do próprio falsário, o perito já parte do seguinte princípio: “No início, quem está falsificando não sabe muito bem como começar, então ele dá uma titubeada. Quando está no meio da tal assinatura, ela já está copiando, com um punho mais firme. Mas na hora que finaliza, expressa a qualidade do punho dele próprio, e não da vítima. Não tem saída. A gente vai descobrir”.

OS CARAS-DE-PAU

Nos corredores dos fóruns da vida, Alexandre já esteve muitas vezes “face to face” com os criminosos que se escondem por trás de uma caneta Bic. Vale ressaltar que há tempos atrás a falsidade ideológica já existia, mas a execução do crime era via caneta tinteiro. Segundo os peritos com os quais conversei, a moda antiga facilitava o trabalho dos desvendadores detalhistas. A caneta tinteiro deixava os traços da GG do criminoso muito evidentes. Hoje, não há que negue o quanto a invasão digital, combinada com o sucesso dos CSIs da vida, vêm remexendo as técnicas e estratégias da perícia.

“Normalmente o perfil de um falsário é o de um cara de pau, frio, e você é capaz de acreditar cem por cento nele. Já começa cheio de conversa, para poder expor o que ele quer que a gente acredite, vendendo a inocência por trás do golpe. Mas eu já conheci falsário burro. Ele assinou um cheque, tentando fazer uma autofalsificação. Mas era uma falsificação que era dele, entende? Que era bem dele. Acho que posso chamar de autofalsificação verdadeira”.

E dessa forma o mundo gira. Há pessoas que maldosamente pegam seu próprio talão de cheque – isso acontece com quem ainda tem cheque, nessa altura do campeonato – e pedem para um primo, amigo, assinar. A criatura vai à Delegacia e diz que foi roubado. Dá tchau para o delegado e vai direto para o shopping fazer suas compras. Segundo Alexandre, assinatura é transtorno. “Acredito que futuramente, para questões contratuais, só as assinaturas em declarações e termos não serão suficientes. Tá com os dias contados, porque você não tem ideia de quantos casos eu tenho aqui de pessoas que foram vítimas de criminosos que chegaram no caixa de um banco, fingiram ser a vítima, apresentaram uma identidade que não foi conferida, fizeram um rabisco qualquer, e conseguiram pegar uma grana”.

Tudo bem, tudo bem. Talvez isso não seja uma novidade assim, tão desconhecida. No entanto, naquela noite, naquele escritório excêntrico, diante do meu gravador, numa conversa descontraída e explicativa, Alexandre se emocionou. Numa volta para o passado, a memória resgatou um caso do início de sua carreira, que ele ajudara a resolver.

O ADVOGADO DO DIABO

“Me chamaram, num escritório de advocacia, para um caso de perícia grafotécnica, sobre um contrato que tinha levado uma grande empresa de biotecnologia que funcionava em Santos à falência, sem a diretora saber. Foi um trauma para a família, que perdeu tudo. O advogado disse que era um caso muito especial para ele, caso de muitos anos, que estava sendo desarquivado. Até mesmo o outro advogado que havia defendido a senhora, dona da empresa, no passado, já tinha morrido”.

“Certo...”

“Na época, não sei por que, não tinham chamado perícia, mas analisando a assinatura do documento e a da senhora, constatei que era mesmo falso, e a assinatura não era dela. Mas folhando as páginas do processo, acabei descobrindo também o próprio falsário”.

“Vai me contar como?”

“Nosso olho fica treinado. E acabei constatando que a rubrica que constava nos autos, do advogado que havia morrido, tinha traços extremamente convergentes com a assinatura questionada, com cem por cento de certeza”.

“Então ela pagou um advogado para fraudar!”

“Ele era o advogado do sócio dela, que se beneficiaria com a falência. Provavelmente agiu em parceria. Mas o melhor de tudo é que esse advogado que me chamou, ao desarquivar o caso, era o filho da senhora, que na época estudava educação física e prometera à mãe se tornar advogado para conquistar a honra da mãe de volta. Ela era uma mulher idônea, muito correta, que sofreu muito com a perda de tudo, da maneira que tinha acontecido”.

O perito quase chorou.

NO MUNDO DOS MORTOS

Ao perceber o tom de preocupação que expressava suas mãos, pergunto se há algum caso em especial que o incomoda, angustia. E ele diz que sim, o chamado “decujo”, que é um documento questionado assinado por uma pessoa que já morreu ontem ou há mais de 100 anos. “Muitos inventam que um documento é falso. E cadê o fulano para checar a assinatura dele? Morreu. E aí eu preciso resgatar anos e anos de documentações do suposto autor, estudar sua escrita, o envelhecimento de sua escrita, seus traços. Até eu notar, por exemplo, que a pessoa estava senil, tinha morrido de alcoolismo, câncer no fígado, e não conseguiria executar uma assinatura perfeita como aquela à véspera da morte, até porque nunca na vida teve um padrão constante de assinatura. Imagina. Com delírios, dificuldade psicomotoras, de repente, a assinatura saía perfeitinha, uma da outra? O documento era falso.”

O CONFRONTO

Alexandre explicou que trabalha sempre com o conceito de convergência. Ao comparar assinaturas a fim de confirmar se há fraude, ele busca traços que convergem, tratando-se dos aspectos formais da escrita, que é o que já está no papel. Para completar a análise, precisa da Gênese Gráfica, e por isso é importante, no meio jurídico, chamar as partes envolvidas no processo para um “confronto” ao vivo e a cores. Na frente do juiz, Alexandre precisa colher o padrão de assinaturas da suposta vítima – quando ela não está já morta. Se se trata do próprio criminoso, que fez uma autofalsificação, há muitos que já desistem nessa fase. Caso contrário, o perito sabe o que fazer.

“É a hora da coleta. Dos padrões e confronto. Peço para a pessoa escrever 30 assinaturas, de forma intercalada. Faço alguns „truques de papel‟. Peço tamanhos de letras diferentes, parágrafos alterados, mudo as regras de preenchimento. Se for um falsificador, ele não vai poder simplesmente copiar a assinatura de cima, se basear nela. No processo da escrita, percebendo os movimentos do punho, a firmeza, já começo a identificar, porque, normalmente, quem falsifica começa a se perder, no arremate, no ataque, assim que mudamos um pouco as peças do tabuleiro”.

Porém, não é sempre que o próprio falsário se expõe assim. Às vezes, um cheque foi falsificado, a vítima recorre ao banco, e ninguém nunca vai saber que assinou. Há também os falsificadores de documentos para compra e venda de veículos e de imóveis, e desses golpes o mercado tá cheio. Mas onde já se viu pai que entra na justiça contra o próprio filho, dizendo que não assinou nenhuma procuração que o deixava pegar dinheiro? Senta que lá vem a história.

PROCURAÇÃO NO PAPEL DE PÃO

“Era num papel de pão. A „procuração‟ tinha sido escrita num papel de pão. O pai, com essa coisa de justiça gratuita, estava contestando o filho, e você pode imaginar o transtorno. O filho dizia: não, ele deixou as coisas para eu fazer, para eu resolver o negócio do parcelamento, e fui fazer. O valor era cem reais, e era ridículo o pai negar, pois a assinatura era claramente dele mesmo”. Reparem. Até um pai de família, recorrendo ao anonimato de uma falsificação, para ter vantagens na vida, mesmo que por cem reais. Ao terminar a entrevista, percebendo que o entrevistado era, digamos assim, levemente mergulhado na superstição, fiz uma brincadeira.

“Vai levar sua filha ao balé, certo?”

“Como você sabe?”

“Ah, eu tenho dons, e não posso revelar minhas fontes.”

Ele ficou chocado por alguns instantes, provavelmente atribulado em sua mente, diante das milhares de preocupações e ansiedades que cometem a vida de um perito, no escritório ou em casa, tentando sempre conciliar as atrocidades que vê com a vida social e familiar. Mas depois se deu conta. “Ah, eu devo ter falado isso no telefone”. “Sim, falou”.

Voltei para casa, cheia de informações borbulhando na caixa d´água. No outro dia, deveria ligar para um delegado muito importante de São Paulo. Queria trocar umas palavrinhas com ele, porque percebi, nas falas de todos esses outros entrevistados, um certo desconforto, uma angústia, quanto a situação dos salários do policial, sem esquecer do assunto desta pauta, a falsificação. Não vou citar seu nome por uma questão de charme, mas posso adiantar que ele tem 37 anos de carreira e foi o cabeça na resolução do caso do sequestro de Abílio Diniz. Vai lá. Dá aquela procurada rápida no Google.

O DELEGADO

“A primeira coisa que deriva tudo é cumprir a Lei”.

Para colher as aspas do delegado, fui até Guarulhos. Nosso encontro fora marcado para 11 horas. Quem recepcionou a repórter foi Dona Cristina, a secretária toda chique. E como “quem cedo madruga, Deus ajuda”, Doutor Nelson – Ops! Falei! – chamou-me para conversar, todo elegante em seu terno escuro.

“Como ia dizendo, se você cumprir a Lei, você é uma pessoa honesta, o resto, é detalhe. Os outros princípios vêm junto. Honestidade e caráter. Uma pessoa que obedece a lei é uma pessoa de caráter, não vai fazer mal a ninguém, roubar ninguém, matar. Não vai falsificar assinatura, não vai falsificar contrato, não vai bater na mulher, não vai espancar a filha”.

Ele é um homem realizado. Um profissional de polícia que sempre gostou do que fez, de acordo com suas próprias palavras. Disse inclusive que todo delegado tem uma vida muito estressante, cobrada, e que os que chegam nesse fim de carreira geralmente têm diabetes. Segundo Doutor Nelson, há um problema de perda de valores nas várias esferas que compõe nossa vida em sociedade. O desrespeito à Lei, a falta de investimentos em Educação, a não valorização da Família, e a presença enraizada da política na Polícia acabam deturpando o funcionamento do mundo, da vida. Como sintoma, um desânimo acomete a alma de muitos policiais, que se encontram “vendidos” diante de um salário que não paga os perigos que correm. Mesmo assim, há bons policiais, “que fazem muito com pouco”. E aí entra o combate ao crime organizado, que dá raiz, como disse Doutor Nelson, “à última folha da árvore”.

A FALSIFICAÇÃO, A BUROCRACIA E O CRIME ORGANIZADO

“O crime organizado se utiliza da falsidade ideológica. Suas ramificações, as pontas, as pessoas que vão executar os trabalhos, vamos dizer assim, geralmente utilizam-se da falsidade ideológica, que, de certa forma, se for bem feitinha mesmo, dificulta um pouco o trabalho da polícia, entende? Dificulta. E, claro que tem. Em todos os lugares, e também quando se trata de falcatruas do governo”.

Doutor Nelson faz um gol de placa nos 45 do segundo tempo e continua sua explicação. “Por quê? Porque o Governo é um negócio, assim, extremamente burocrático, você tá entendendo? Então, até chegar um tempo de alguém virar e falar: „Péra aí. Isso aqui tá errado‟, já conseguiram liberar uma verba aqui, outra ali, e a coisa já foi. Isso não é fácil combater, e, de verdade, nós não temos assim um negócio que, de fato, combate o crime organizado”.

O delegado é casado há 44 anos, salientando “com a mesma mulher”. Conta que os filhos sofreram com ele, nas empreitadas de sua carreira, mesmo lutando para nunca levar seu trabalho para casa. “Olha, se eu não tivesse o esteio da minha família por trás de mim, talvez eu teria ido embora. O que eu espero? Uma melhora”.



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