Fernando Bonini, um rascunho sem arte final
Trajetória de desenhista é um capítulo da história do desenho no Brasil
Por Bruno Machado - Edição U-turn - dezembro de 2011

O rosto estreito, o farto bigode, o sotaque nervoso da Baixada Fluminense: o retrato mais famoso de Fernando Bonini (foto: arquivo pessoal Franco de Rosa)


Conteúdo:

Ele não queria ser funcionário, queria liberdade

Do Zé Carioca ao Zé Mandioca


Franco entra no estreito quarto de pensão que recebeu seu último hóspede há pouco mais de quatro meses. A cama está desfeita, o lençol amarrotado pela última noite de sono. “Foi-se tranqüilo”, pesaria ele seis anos depois, de frente para mim, em uma cafeteria no Centro. Certamente, seu velho amigo desenhista vagara por ali, algumas décadas antes. Recolhe alguns objetos pessoais que, no momento, não se recorda quais são e deixa o pequeno aposento.

Apesar de tanto em comum, Franco é sincero: diz não ter grandes saudades do amigo, em parte por conta de sua melancolia. Lembra-se dele, sorridente entre outros cartunistas, nas mesas de bar. Sempre com o copo a mão, para que não bebessem da sua cerveja. Em outros momentos, entregava-se a uma tristeza profunda, esmurrava paredes, amassava desenhos. Mas não era agressivo com os outros. Franco, inclusive, confessa que Bonini chegava a apanhar da mulher. Eles dois, inclusive, chegaram a dividir a mesma mulher: Bonini se casou, certa vez, com a ex-esposa de Franco.

O que sobrou de sua tragicômica existência – bonequinhos de durepoxi e presentes recebidos pelo aniversário de 50 anos, recém-completos –  está guardado em uma caixa de sapatos num apartamento na Avenida São Luís. O apartamento do editor e desenhista Franco de Rosa, com quem converso, a poucos metros de sua casa, entre uma e outra xícara de café. É um sábado ensolarado e frio, e poderia muito bem lembrar o dia em que Fernando Bonini foi enterrado, há seis anos, em Valinhos, no interior de São Paulo. A conversa por vezes não flui de maneira elucidativa: mesmo Franco, que conviveu com Bonini por tantos anos às vezes não parece atravessar o simples esboço desse rosto fluminense estreito, de poucas fotos, o farto bigode, sotaque da baixada, chiados nervosos herdados de Niterói.

Foram amigos e por muitas vezes, colegas de trabalho. Fizeram parcerias e tiveram vidas ligadas por coincidências – das quais Franco se lembra com alegria, mas sem sentimentalismo. Filho de um homem que se alternara e se desdobrara em diversas profissões, como barbeiro e palhaço, Bonini cresceu vendo os filmes de Jerry Lewis – de quem tiraria muito de sua inspiração para criar histórias. Muitas das situações que viveu também lembrariam muito os esquetes do comediante americano.

Em São Paulo, Franco de Rosa e Fernando Bonini foram vizinhos na infância – mas nunca souberam disso. Embora morassem um em frente ao outro, numa rua da pacata Santana, jamais jogaram bola juntos na rua; estudaram em escolas separadas. Dois completos estranhos, com uma paixão em comum, e que ainda se esbarrariam um punhado de vezes pela vida dos estúdios de quadrinhos. 

Bonini tinha quinze anos quando foi descoberto por Primaggio Mantovi, que chegara ao Brasil com a derrota italiana na Guerra. Mantovi era o mentor, Bonini o assistente de arte. Na extinta Rio Gráfica Editorial, desenhou tirinhas do Recruta Zero e do Sacarrolha. Nessa época, ele ainda trabalhou com outros importantes nomes como Walmir Amaral, Gutenberg Monteiro e Evaldo.

sacarrolha"Sacarrolha" da Rio Graf Editorial: Bonini trabalhou como assistente de arte de Primaggio Mantovi 

Era início da década de 70, e fazia pouco mais de uma década que o desenho havia se instalado profissionalmente no país, graças às agências de publicidade e aos estúdios de HQs, importadas diretamente dos EUA.  A função dos desenhistas brasileiros, nessa época, reduzia-se a fazer o que Franco chama de decoração: finalizar cada quadrinho, fazer pequenas adaptações para o público brasileiro. A produção nacional ainda era bastante incipiente, o que mudaria na década seguinte com artistas sedentos por mostrar um trabalho de cunho mais autoral e até experimental. Bonini era um desses artistas.

  

Ele não queria ser funcionário, queria liberdade 

Foi na revista “Spektro” que Bonini  mostrou seus primeiros trabalhos autorais. Era final dos anos 1970, quando surgiram seus personagens de traços duros, verticais, de queixos sempre muito grandes em histórias de terror e erotismo. A revista durou até 1982 com histórias que versavam sobre anjos, macumbas, demônios e encontros sexuais sobrenaturais.

Como todo desenhista, produzia melhor pela manhã, mas muitas vezes passava também a madrugada rabiscando originais.  Quando terminava uma história, dava-se férias de dois a três dias. Raramente escrevia um roteiro quadro-a-quadro de suas histórias. Simplesmente pegava a folha em branco com um rascunho mental do que iria fazer. Dali saíam os desenhos e a narrativa, sem qualquer organização formal prévia. Fico impressionado com tal método, mas Franco me previne que ele é bastante normal entre cartunistas. Pelo menos naquela época.

Os tempos de “Spektro”, contudo, não duraram muito. Na verdade, Bonini não parava quieto em nenhum emprego. “Ele não queria ser funcionário, queria liberdade”, brinca Franco. Mal sabia ele que, anos depois, essa liberdade encontraria seu paroxismo nas ruas de São Paulo.

Com o fim de Riograf e da Vecchi, um novo pólo do desenho se instala no país, no começo da nova década. Curitiba é a capital dos novos sonhos dos artistas de quadrinhos do país: a Grafipar, que anteriormente apenas publicava livros decide entrar no ramo. Para tanto, decide convocar um verdadeiro time de talentos que se estabelece nos limites da capital paranaense. Morando contiguamente, formaram o que se chamou na época de vila dos desenhistas. Eram Gustavo Machado – com quem Bonini dividia a moradia –, o próprio Franco de Rosa, Itamar Gonçalves, Watson Portela e Claudio Seto, este último, conhecido como o pioneiro do mangá no Brasil.

roupas do outro mundoRevista "Spektro", publicada pela Vecchi Editorial: a chance de Bonini publicar trabalhos autorais

Ao que parece, a década de 80, a década perdida, parece ter sido a mais memorável de Fernando Bonini. É quando seu talento parece florescer, quando surgem seus melhores trabalhos e histórias. Um ser humano e um artista que atinge sua maturidade e se prepara para o declínio, pessoal e profissional.

Franco se lembra com certa saudade dessa época, e numa frase solta, como se ligasse as pontas do passado e do presente, reitera: “Hoje nossos filhos são amigos. O filho dele vive por aí, é tatuador”.

É nessa época que a faceta humorística de Fernando Bonini aparece. Sua própria vida se reveste de um tom de paródia rocambolesca, que vai se refletir nos seus trabalhos posteriores, marcados pelo duplo-sentido, pelo quadrinho que mescla o erótico com o engraçado, com a situação absurda, com o humor de Lewis e seus filmes preto e branco.

Empilham-se as histórias cômicas deste período, e é dele que Franco tem a imagem que se cristalizou na sua memória: o Bonini falante, rodeado de desenhistas, copo em punho para que os outros não tomassem da sua cerveja; a imagem de repente toma outra cor, e o artista torna-se introspectivo, com uma forte tendência para a contemplação melancólica da vida.

***

A cabeça de Fernando Bonini doía em mais de um lugar quando acordou na enfermaria do clube. Mal passara a dor e o sangue parara de lhe descer testa abaixo, quando deram com ele deitado na maca. Estendia olhares sedutores à enfermeira, acanhada ante o carinho que ganhava no pulso. Calculara mal o salto na piscina e dera com a cabeça no azulejo.

Fora algumas noites depois que chegou bêbado em casa na companhia de duas mulheres. Os vizinhos se constrangeram com a algazarra noturna. O som de algo que se despedaça na noite assombrada da Curitiba oitentista: Bonini acorda com a prancheta quebrada e um prejuízo em dinheiro. Levar mulheres pra casa? Nunca mais. Ou até a semana seguinte. Até recuperar o dinheiro que duas prostitutas roubaram.

Dorme em qualquer lugar.  Às vezes esquece onde mora, urina na rua. Não tem para subir num ônibus, muito menos para apanhar o táxi. A cidade dorme deserta a noite fria, enquanto Bonini atravessa a rua. Não sabe se dorme, se sonha, se delira, mas dois olhos grandes o chamaram do outro lado. Um estranho parece requerer sua ajuda. A ficarem a dois palmos de distância, a revelação.

No dia seguinte, como explicar aos amigos? Perdera o dinheiro, as chaves de casa. Limpara-lhe a carteira. Tinha algo nas mãos de certo, mas não conseguiria lembrar do que se tratava. A probabilidade de ter sido assaltado com um revólver, uma faca, uma colher ou um dedo é a mesma.

Risadas, risadas e mais risadas. Um jovem grupo de desenhistas. Os anos 80 ardem-lhe feito febre, o talento doado ao desenho, ao rabisco, a música alta, a cerveja. A menina de muletas lhe chama a atenção. Está esquecida num canto da boite barulhenta e melancólica. A cabeça nas nuvens, a perna bamba. A perna dele, a perna dela. A noite inteira foi em vão, o esforço hercúleo. Ouviu apenas um monótono e sequenciado não. As pernas parecem feitas de borracha mole. Prontas para se desafazerem-se no chão.  Foi-se o dinheiro das bebidas, os xavecos vencidos, repetidos, a conversa sem sentido, os sorrisos, as muletas. Tentaria mais uma vez, mas ela parece querer ir embora. Que ideia, sair à noite de muletas.  Não conseguira um beijo ou mesmo um abraço. (Como ela poderia abraçar-lhe se mal consegue parar no chão sem precisar se apoiar em algo ou alguém?) Na hora da saída, Bonini não resiste, e numa cena de Jerry Lewis, atrapalhado, gag de cinema, Moe Larry Curly,  risadas de auditório, esbarra nas muletas. A garota vai ao chão.

Riso. Dane-se. Não há dinheiro pra fechar o mês. Dane-se. Riso. Dane-se. Curitiba. Grafipar. Amigos, cerveja. Risos. Pendure a conte – pago no mês que vem. Assaltado de novo. Assaltado mais de uma vez. Assaltado incontáveis vezes. Fernando Bonini ser assaltado não era novidade. Rabiscos, nanquim, papéis pelo chão. Contando trocados. Todos os bares de Curitiba devem conhecer-lhe o nome. Recebe e mal vê o dinheiro. Centavo por centavo que se esvai. Bebidas.

***

Não tardou para que a crise econômica que assolou o mundo chegasse à fria capital curitibana. Foram apenas quatro anos, mas dos mais intensos. Com o fim da Grafipar, chega ao fim também a vila dos desenhistas. De volta a São Paulo, de volta ao Rio, às agências publicitárias, às pequenas publicações. Sobrevivência. Fim dos trabalhos autorais. Os filhos da crise nascem bravos, dispostos a sobreviver e subjugar quem for preciso. E conseguem.

De volta a São Paulo, Fernando Bonini e Franco de Rosa parecem sentir no ar que os tempos são outros.  Mas a sorte lhes acena. Pois há empregos. Há desenhos, quadrinhos e revistas surgindo por toda parte. Há de se respirar aliviado, por que não?

 

Do Zé Carioca ao Zé Mandioca

cariocaNa Editora Abril, Bonini desenhou diversas histórias: até 1998, ele foi o principal desenhista do Zé Carioca

 

É 1987. Os títulos estrangeiros, sobretudo da Disney, convivem relativamente bem com a produção nacional de Sérgio Mallandro, Os Trapalhões e A Turma da Mônica. Embora os tempos sejam mais serenos, seu medo se realiza: Fernando Bonini se torna um funcionário. Pelos próximos anos ele permanecerá na Editora Abril, onde se tornará célebre por ser um principal desenhista dos quadrinhos do Zé Carioca. Dessa época também são produções que nunca chegaram ao público, outras foram incineradas.

Nesse momento, a memória de Franco borra-se de outros momentos, mas ainda é possível recuperar a memória de Fernando Bonini. Em termos. Seria a bebida, a rotina pálida, o peso da vida – uma soma dos três, quem sabe, que fez o desenhista abandonar uma vida que começava a se estruturar e trocá-la pela liberdade... das ruas? Se sua produção nessa época jamais se igualaria, e se ele parecia um artista bem-sucedido, por que largou tudo? Tais perguntas, provavelmente, jamais terão uma resposta satisfatória. Os murros nas paredes, o nervosismo, os episódios de depressão.

O que importa é que no final de 1998, Fernando Bonini passou a existir nas ruas de São Paulo. Chegou a morar dentro de um Fiat sem rodas, que certa vez foi lançado barranco abaixo. Desertas, à noite, as ruas de São Paulo têm regras e donos.

***

Exausto de tanto andar. Novamente não sabe se dorme, se sonha, se delira. Desta vez, não vai até os grandes olhos que divisara do outro lado da rua; foge deles, e há algumas horas. Não saberia calcular o quanto já andara, mas as pernas doem e tudo que quer é um lugar quente para dormir. Mas a perseguição persiste por mais algumas horas. Seu inimigo parece onipresente nas sombras dos edifícios.

Se olhasse para o seu futuro, naquela noite, como em qualquer outra, não saberia dizer. Mas naquela noite tudo parecia pior. É como se andasse nos limites dos domínios da morte. A cidade, como um tabuleiro de xadrez, minunciosamente dividida entre seres invisíveis, seres que como ratos deixavam suas alcovas secretas, subterrâneas para reinar entre a sarjeta e o cheiro de mijo.

Na outra noite, acordara com os pés roxos e doídos. Doidos, haviam roubado-lhe os bens mais preciosos: um par de rotas meias. Houvera o cuidado de lhe devolver os não menos puídos sapatos aos pés, mas ainda era pouco contra o frio. Calor, ainda havia um pouco nos corações mendigos, mais do que num par de pés sujos.

Descalço, naquela noite era a presa.  Ofegava entre becos, entre luzes amarelas. Nove de Julho, República, Maria Paula, São Luís – talvez aqui mesmo, onde ocorre esse diálogo, entre colunas de fumaça de cigarros e café – entre uma vitrine e outra, ele parou exausto. De repente os olhos, como dois faróis na noite se apagaram. Deixou-se apagar, não obstante alerta. O coração saindo pela boca. Mesmo os fortes caem no sono e, muitas vezes, falham.

Acorda do que parece ser um pesadelo para mergulhar em outro. Os faróis agora estão em seus olhos. Quentes e grandes, não apenas menos assustadores que o sorriso desdentado que os emoldura. A enfermeira ri, todos riem. Calculou mal o salto. Sangue. Uma mão de unhas imundas, um cano. A visão parece falha. A cabeça dói. Levanta e caminha, persiste na fuga, e mesmo que morto, vai sobreviver. E sobrevive.

***

Foi em 2000 que uma voz fraca pediu ajuda do outro lado do telefone. Franco retirou o amigo de longa data da rua e deu-lhe novo emprego. Dessa época surgem os trabalhos para a editora Opera Graphica. Franco me confessa que são trabalhos bons, e não raro, volumosos. Histórias longas, histórias de caráter quase confessional, um expurgo do sofrimento que aprendeu e arrancou do asfalto. Entre outras histórias mais comerciais, Bonini passa a desenhar quadrinhos do Rei Leão e do Pica-Pau para estúdios independentes. Os quadrinhos eróticos, verdadeira obsessão de Franco de Rosa, e um dos talentos de Bonini perde aceitação de mercado. O jeito é desenhar e escrever para crianças.

Mas novamente Fernando Bonini nos impõe um enigma, pois não tarda a voltar para a rua. Outra ligação, agora de um vizinho, informa Franco que ele deixou o estúdio onde vivia provisoriamente. Os seus esforços em manter a cabeça do amigo livre dos fantasmas do asfalto falharam.

Mais um ano na rua, outro hiato na amizade entre Fernando e Franco. Pouco se sabe desse período. Sabe-se, no entanto, que Bonini chegou a buscar ajuda espiritual, e numa de suas aventuras, embarcou numa viagem com uma seita messiânica até uma região qualquer. Meio do mato. Batida policial, pastores presos. Tráfico de drogas. Perdido no mundo.

Doente, desnutrido, cego de um olho – resultado de uma pancada na cabeça – , passou a vagar por Jacareí, também no interior de São Paulo, onde eventualmente conseguia comida e tomava banho em postos de gasolina. Foi novamente por telefone que pediu ajuda ao amigo. Pela última vez. Estava internado num hospital, e precisava de alguém que o tirasse de lá.

Franco mais uma vez fez pelo amigo, instalando-o numa pensão em Valinhos, onde não permanecerá muito. Não muito antes de morrer, faz seus últimos trabalhos, redesenhos, uma história de cangaceiros no estilo Disney, que importava? Parecia trabalhar quase que automaticamente no seu pequeno quartinho. Vida modesta. Sem álcool. Abstinência Desgostoso com o rumo que tudo tomara? Talvez. Talvez pensasse no pai, palhaço e barbeiro. Não fosse desenhista, seria barbeiro, dizia. E de alguma forma, foi palhaço, imitando Jerry Lewis, os três patetas, fã de Chaves,  avesso ao rádio. A música o punha triste.

Das histórias que fez, a que Franco guarda com mais entusiasmo é a do Zé Mandioca. Paródia do quadrinho que tornou Bonini célebre – basta procurá-lo no Google, é assim que a História parece querê-lo, como o principal desenhista do Zé Carioca –, são histórias de um papagaio anão que se mete em problemas devido ao pênis muito grande.  Ao que parece, Bonini só desenhou duas das três histórias que existem. Da última, só há um roteiro.

***

Da última vez que Franco de Rosa viu Fernando Bonini, fora na noite anterior à morte. Ele parecia bem e há poucos dias havia ganhado sua festa de aniversário de 50 anos. Ganhara presentes numa festinha triste. Sua debilidade ainda era visível. As noites frias nas ruas de Jacareí, sem comida, diriam. Pobre coitado.

No dia da morte, saiu para tomar um café. Voltou e deitou-se na cama. Parece ter falecido no sono. O coração não resistiu. O coração que viveu uma infância quase nômade, os loucos anos oitenta curitibanos e o inferno das ruas paulistanas. Fernando Bonini dormia em paz. Com o dinheiro que conseguiu, dos últimos trabalhos, chegou inclusive a pagar o próprio funeral, do qual participaram poucas pessoas.

Era dia ensolarado e Franco fechou a porta do pequeno quartinho pela última vez. Levava consigo alguns objetos, que depositou no caixão do amigo. Lembra-se com carinho de quando, em Curitiba, o amigo chamou um policial loiro de polaca, e não fossem apartados, teria sido preso. Mas os murros nas paredes, a angústia e a dor que Bonini experimentou talvez indicasse aos mais indiferentes, aqueles que só dele recordavam sorridente, o copo em mãos, o bigode farto contra um rosto estreito, que era estava preso em vida, e nas ruas buscava a liberdade da solidão. Em vão.

Vai ver a morte o seduziu com suas promessas de liberdade e ele assim resolveu segui-la. Com sorriso na cara e os trejeitos de Jerry Lewis.



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